Bem-vindo ao Tomar Digital, um site dedicado a obras digitalizadas e fontes históricas sobre Tomar
Welcome to Tomar Digital, a History site that made investigation about the portuguese city Tomar.
We are making good discovers and give them to society to get more information, culture and events.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Livro Nabantino, com 400 anos, volta do Brasil.


É uma honra para a Tomar Digital ter "achado" esta digitalização e poder aqui disponibilizar todo o seu conteúdo para que nunca mais se perca este tesouro nabantino.

Garanto-lhes que foi dificílimo  desencantar um exemplar digitalizado, tendo-o encontrado através de uma fundação brasileira que salvaguarda o espólio de livros, documentos e objectos de Ruy Barbosa.

Pode fazer o download do livro em formato PDF e guardar no seu PC se assim entender.

A obra História da Vida e Martyrio da Gloriosa Virgem Santa Eria de 1618 da autoria do Freire Isidoro da Barreira, foi escrita e impressa no Convento de Cristo e faz no presente ano de 2018 o aniversário 400.

A forma como se apresenta e de acordo com os testemunhos e nomes que nela inclui, permite perceber que Isidoro da Barreira procurou junto da população a informação para compilar os seus textos sem descurar a base das obras anteriores que contam a lenda.

A riqueza histórica deste trabalho é enorme, inclui poemas, lembrando aqui que a Feira de Santa Iria foi criada pouco depois em 1626.

Provindo da Biblioteca Rui Barbosa Digital, o livro está digitalizado na integra, devo salientar que apresenta alguns lapsos de paginação de origem, como exemplo, não se ter numerado a página 53.

E está aqui disponível:


Um obrigado especial a Ruy Barbosa por ter o nosso livro na sua colecção.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Jornal de Tomar - A Verdade de 23 de Dezembro de 1888




Foi há 130 anos, a 23 de Dezembro, Domingo, que saíam as notícias do semanário "A Verdade" em Thomar, do "editor, proprietário e responsável" António da Silva Magalhães.

Após o escândalo do divórcio do rei da Sérvia e dos boatos da rainha de Portugal em se querer divorciar do Rei D. Luiz, novas notícias chegavam um pouco de todo o lado à nossa cidade, sendo que das notícias locais o Dr. Joaquim Jacinto regressou a Thomar, a D. Maria Henriqueta Martins e o Sr. Álvaro de Vasconcelos fazem anos na terça-feira, há o desfecho de uma situação burocrática no Registo Civil com o Sr. Ferraz em que o jornal "lamenta (...) ao Sr.Ferraz de Macedo (...) por mais uma vez ter ido esbarrar com um cretino".

Continuando, na semana passada, um dos criados do Sr. José Joaquim de Araújo, "acreditado comerciante desta cidade", quando procedia ao descarregamento de um casco de azeite de uma carroça para o armazém, "partiu-se uma das pranchas e batendo o casco na calçada saltou-lhe uma aduela". Apesar das providencias perdeu-se uma grande quantidade de azeite. Que desgraça...

No dia 17 o Sr.Guilherme Ferreira e a D. Florinda da Piedade casaram.

Surgem igualmente os preços actualizados do Mercado de Tomar onde os Tremoços estão a 230 Reis.




Há uma resposta ao Sr. Augusto da Silva Garcez, que em "vez ser um senhor às direitas" é "uma ratazana", assim como ao Sr.José Alves da Silva, em tom de despedida "E porque estes senhores são dignos um do outro, aqui declaramos que os deixamos - em paz e às moscas."

Perdeu-se um Varino, precisam-se sapateiro e funileiros.

Arrenda-se casa.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Tomar e 11 Decímetros

A obra Memória sobre Pesos e Medidas publicada em 1836, assegura na pagina 9 que a antiga unidade de medida Vara, 11 decímetros = 1.10 metros, estava representada na Câmara de Tomar e cuja mesma tinha sido doada pelo Rei D. Sebastião.





domingo, 9 de dezembro de 2018

Carta de Thomar para Junot (1808)

Em Julho de 1808, de acordo com os escritos e populares, foi graças à intervenção de Ângela Tamagnini, conhecedora da língua francesa, que é evitado um embate bélico entre o povo de Tomar e o exército francês ao comando do General Pierre Margaron, sob a ordem de Junot, que tinha poucos dias antes devastado a cidade de Leiria.

General Margaron

Através da Gazeta de Lisboa, que neste período estava ao serviço dos franceses como meio de propaganda napoleónica, onde o Intendente Geral da Polícia Pierre Lagarde ditava a oficiais portugueses que faziam a tradução para português, conseguimos chegar a um verdadeiro tesouro que nos escapa quando falamos deste momento da história de Tomar: uma carta destinada a Junot.

Todos conhecemos o momento em que Ângela Tamagnini através do diálogo com o General Margaron, consegue provar a rendição de Tomar, existindo até uma lenda local de que o francês se apaixonou pela italiana, que era casada com um notável de Tomar.

A Gazeta de Lisboa não refere a presença de Ângela Tamagnini, no entanto, a ter acontecido a negociação podemos deduzir que em algum momento esta carta terá entrado na negociação.

No entanto, o conteúdo da carta é pouco conhecido e surge aqui tal como surge na Gazeta de Lisboa, datada de 8 de Julho de 1808:


"Havendo-se manifestado em Thomar hum principio de insurreição, os Frades e a mais vil canalha foraó os unicos que tomáraó parte nesta revolta. Os habitantes honrados daquella Villa porém se deraó pressa a dirigir ao Illustrissimo e Excelentissimo Senhor Duque d'Abrantes a carta seguinte:


 Sua Excelencia ordenou ao General que marcha para Thomar , que distinguisse aquela Vila da cidade de Leiria , que quiz persistir no seu criminoso delírio, e que por isso recebeu o castigo merecido, como igualmente Beja e Villa Viçosa. A mesma sorte está reservada a todas as povoações que ousarem revoltar-se."


A Gazeta de Lisboa, como instrumento de propaganda ao serviço de Napoleão, continuou a dar o exemplo de Tomar em que os franceses foram "recebidos como amigos", ao contrário de Leiria onde houve mortes e destruição. Servindo assim esta diferença como aviso a todas as cidades e vilas de Portugal, como podemos verificar:

A Carta de 1808, que apresenta nomes de tomarenses desse ano, é uma forte prova do poder do diálogo num cenário de guerra.






sábado, 8 de dezembro de 2018

Poema "Sancta Iria" de Feliciano de Castillo (1839)

O poema que se segue "Sancta Iria - Chacara", a padroeira de Tomar, é da autoria de António Feliciano de Castillo e surge num livro de 1846, de nome Exacavações Poeticas, com publicação no Rio de Janeiro.
O autor revela que o poema foi escrito na Quinta da Azenha Velha junto a Carnide, a 28 de Maio de 1839.


Tocam sinos em Nabancia,
Tocam sinos á porfia;
É por S. Pedro e S. Paulo, 
Que se-festeja o seo dia. 

Á Matriz são vindas freiras, 
Quantas em S. Bento havia: 
Todo o altar um ramalhete ; 
O povo galas vestia.

Mas nem no altar se-inlevava, 
Nem no poyo se-revia 
Britaldo, filho mancebo 
Do que em Nabancia regía: 

Curiosidade o lá trouxe 
Do muito que ouviu de Iria;
Que nem ha freira tão linda,
Nem sancta de egual valia.



Logo em a-vendo foi cego, 
De quanto o ceo n’ella ria; 
Iria, é toda da gloria, 
Britaldo, todo d'Iria. 

Desde aquella negra hora 
Perdeo comer e alegria; 
Sonha as noites accordado, 
Não cuida em tal todo o dia. 

Promette amor e segredo, 
Promette ouro e pedraria, 
A propria vida promette 
Se ella aceitar-lh'a queria. 

Marido quer a donzella, 
Porém de mór jerarquia; 
Quer delicias e riquezas, 
Mas nào ouro, e pedraria.


Quer Jesu por seo esposo, 
Por sogra a virgem Maria, 
O ceo por palacio e hortas, 
Os Anjos por companhia; 

Por delicias basta a pomba 
Do Paraclito seo guia, 
Que entre as flores das virtudes 
N'alma lhe-arrulha alegria.


Gastado dos vãos desejos 
Morrer Britaldo se-via: 
Geme seo pae Castinaldo, 
Chora sua máe Cassía. 

Todo o povo anda pasmado, 
Que é dó ver tal loucanía,
Annos tāo verdes, murchados, 
Pender para a terra fria.



Chegou a nova ao mosteiro; 
Lastimou-se a boa Iria : 
Deu-lhe licenca a abbadessa 
De ir ver a quem se-morria. 

Introu manso ao pé do infermo, 
Que nada ver não queria, 
E disse-lhe: « ¡Sus Britaldo » 
E elle accordou e tremia.

Reconhecendo ser ella, 
Recobrou nova alegria: 
Dos olhos, faces e bocca 
Logo a morte sacudia; 

Ambos os bragos algava 
Como d'antes náo sohia: 
E por julga-la rendida 
Abraça-la já queria.


Como que foram serpentes 
Ella os bragos lhe-fugia: 
E contra o fogo da carne 
Sanctas razóes lhe-dizia. 

E vendo que ás razóes sanctas 
O doente se-rendia, 
Foi pór-lhe as mâos na cabeça, 
E disse com fé mui pia: 

« Nome do Padre e do Filho 
« E do Esprito que alumia, 
« Accuda-te o anjo da guarda, 
« Salve-te a virgem Maria. » 

Palavras máo eram dictas, 
Britaldo mui são se-erguia,
 E vendo-a que se-apartava,
 Com esta falla a-seguia:



«Da morte, sim, me-has livrado, 
« Não do amor de que morria; 
« Não sei se é favor, se é damno 
« O que me ora has feito, Iria. »

« Masqualquer que eme tu fosses, 
Nunca te eu mal quereria,
 « Deus te-accrescente a ventura
 « Com toda a que me-devia. »

« Eu que te-chore no mundo, 
« Onde tão solto me-ria ; 
« Tu, folga sem mim no ermo, 
« Sem homem, hora, nem dia. » 

«Que se jámais cá me-soa 
Amor terrestre de Iria, 
Qual a vida que me has dado, 
« Morte crua eu te daria. »



« Adeus e porque vás certa 
« Que ninguem te-livraria, 
Por Deus te-juro isto mesmo, 
« E pela virgem Maria ! » 

Mal era fin da uma guerra, 
Outra guerra se-accendia 
Contra a limpa castidade 
D'aquella formosa Iria.

D’entra as rosas d'annos verdes 
Viu amor que a não rendia: 
Foi entre cás emboscar-se, 
Que não ha maior falsía.

Em montes de sanctidade, 
Onde se ella mais confia, 
Por entre as fontes da graga 
Lhe-armou sua bateria. 



Um monge, dicto Remigio, 
A confessa-la sohia, 
Varão d'an nos e virtudes, 
O mór que em monges havia.

 Namorou-o a formosura 
Dalma que nua lhe-via; 
Votou perde-la e perder-se 
Quem lhe sempre fóra guia. 

Pasmou Iria atterrada 
De tão estran ha ousadia; 
Mas logo com gräo despejo 
Suas tencóes rebatia. 

Como que alfim cae na conta, 
O monge perdào pedia; 
E com mores penitencias 
Nova malda de incobria. 



As calidades das hervas 
Todas elle as-con hecia, 
Que umas sáo para saude 
Outras de grä tyrannia. 

Como veio á meia noite, 
Da sua cova sahia ; 
Como a meia noite dava, 
Hervas no monte colhia. 

Colhidas que teve as hervas, 
Suas folhas espremia; 
Toda a terra era calada , 
O rio triste corria. 

Mlixturava sumo verde 
Com palavras que sabia; 
Com seo bafo pegonhento 
O sumo se-denegria. 



Nen hum anjo ousava olha-lo; 
Nen huma estrella luzia: 
Pöe Remigio olhos de fogo 
No vaso.... e o vaso fervia. 

D'aquella infernal peconha 
Temp'rou a mesa d'Iria: 
Iria estava innocente . 
Näo suppunha mal, comia. 

Comidas que teve as hervas, 
Logo o ventre lhe-crescia, 
Como foi crescendo o ventre 
Logo o seio se-lhe-inchia.

O parecer do sembrante 
De panno se-lhe-cobria; 
Mostras de dona pejada 
Nenhuma lhe-fallescia. 

Todo o convento se-espanta, 
A-despreza e a-injuría, 
Toda a terra de Nabancia 
Ri da sua hypocrisia. 

A triste nào se-defende 
Nem defender-se podia; 
Remigio a—amaldicoava, 
Britaldo cm furias ardia. 

Tudo era contra a coitada ; 
Nem o ceo não lhe-acudia: 
Chorem leóes, chorem ursos, 
Chorem tanta barbaria. 

Foi Britaldo ter, a occultas , 
Com um que na terra havia . 
Acostumado a alugar-se 
Em qualquer malfeitoria. 

« Ora, sus Banão lhe-disse: 
« Boa nova eu te-daria, 
« Que houveras tu prata e ouro 
« Se a ferro morresse Iria. »

Depois de cuidar um pouco, 
Banão assim respondia: 
« Fizera-o eu por dar gosto 
« Só a tua sen horia. 



« Quantas monjas tem S. Bento, 
« Quantas eu te—mataria: 
« Traze ora o que prometteste 
« Que ella morta, eu posto em via. »

 Recebido o ouro e a prata 
Á facanha se-partia:
 Soube em que parte da cérca 
Aso de a-colher teria. 

Por entre umas matas densas, 
Por-li o Nabão corria 
Logar mui feito a tristuras, 
Por brenhas e penedia. 

Nas horas mortas da noite, 
Quando do córo sahia, 
Alli vinha ajoelhada 
Chorar mais resas Iria. 

N’aquellas silvestres lapas 
Logo Banão se escondia; 
Nem vento não respirava, 
A lua n agua tremia.

Bem poderam piar mochos, 
Só um rouxinol se-ouvia, 
Ao som do murmurio fresco. 
Das pedras entre a agua fria. 

Banão, por livrar do somno. 
Que no esperar lhe-crescia, 
N'uma pedra, manso e manso. 
A afiada espada afia. 

Detem-se, que ouviu passadas; 
Surge, olha em redor, espia.... 
Quando n'uma lagea bronca 
Vé de joelhos Iria. 

Dava-lhe a lua no rosto, 
Como estrella resplendia; 
E apertando as mâos algadas 
Estes prantos proferia: — 

« Jesu, esposo d'esta alma, 
« O” sancta virgem Maria, 
« O” celestes potestades, 
« O”anjo, meo casto guia. 

« Já nada por mim vos-pego, 
« Que eu nada vos-merecia, 
« Mas que não se perca a fama 
« Das monjas com quem vivia.

« Tirai do escandalo o povo, 
« E o convento da agonia, 
« E eu que morra...» Eis mão de ferro 
Que a garganta lhe-tolhia. 

E eis que vibrada no ouvido 
Esta palavra rangia: 
«Britaldo, agora te-mata, 
«Britaldo, ¿ intendes, Iria?

E logo um tinir de ferro,
 Uma espada que lusia, 
A garganta atravessada, 
O corpo em terra batia. ¡

O sangue que borbutava 
E um lume que aos ceos subia:
 E em roda d'elle mil anjos 
Com celeste melodia!

O corpo da virgem martyr 
Lá vaina corrente fria 
Nu dos habitos sagrados 
Que desde a infancia trazia.

Ramo de lirios e rosas, 
Que aboiava, parecia, 
Do Nabáo tomou-a o Zézere 
Com elle ao Tejo descia. 

Assim veiu navegando 
N’aquella agua corredia, 
Aquella alva barca humana 
Que serafins traz por guia.

 De sangue vai purpurada 
Por mais nobre galhardia, 
Dado aos ventos o cabello 
Que era as vellas que trazia. 

Por onde quer que passava 
Tudo ao longe recendia; 
Té que veiu aos pés d'um monte 
Que juncto a Escalabi havia;

E alli, onde um bom remanso 
O Tejo fundo fazia, 
Foi sepultada nas aguas
Perla de tanta valia. 

Todos os anjos e archanjos 
Da celeste jerarchia,
 No fundo d'aquellas aguas 
Trabalharam todo um dia.

Lavraram-lhe un moimento 
De pedra mui luzedia; 
Depois cantaram-lhe obzequias 
De estremada melodia. 

E antes que outra vez tornassem 
Para a eternal monarchia, 
Co”as conchinhas de mil córes, 
E o ouro que o Tejo cria, 

Sobre a campa lhe-intalharam 
Um letreiro, que dizia: 
« Livre da terra, aqui poisa 
« A virgen mui sancta Iria. » 

Sagrada a véa do Tejo 
Ficou desde aquelle dia. -


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Um Americano em Thomar - Ernest Peixotto (1922)


Ernest Peixotto (1869-1940) foi um escritor, ilustrador e artista americano, que viajou pelo mundo tendo visitado Portugal e Espanha.

O seu apelido tão lusitano deve-se ao facto de ser de ascendência sefardita.

Esta é uma obra de luxo, a todos os melhores níveis.

A obra "Through Spain and Portugal" publicada em 1922, resulta desta viagem e tem a sua passagem por Thomar, o que a notabiliza mais uma vez, sendo que o capítulo respectivo inclui duas ilustrações de Ernest.

O autor eleva Thomar através dos monumentos e arquitectura que encontrou, maravilhando-se com o Convento de Cristo.


Fica aqui o Capítulo: THOMAR, da descrição e das ilustrações:


The drives in central Portugal are truly delightful. The little open carriage, the horses* steady pace, the soft fragrance of the air, the ever-changing and ever-pleasant pictures along the way, make an ideal mode of travel, far from the noisy railway and the dust of automobiles. The scenery is not spectacular in any way—just lovely country, peaceful and idyllic. Rows of oaks and eucalypti ranged against the sky, cork-trees by the roadside, vineyards perched on rocky terraces, vales of olive groves, and, most of all, pine woods, sundrenched and balsamic, on the risings—such are the features of the landscape. Villages seem few for populous Europe, but the farms, when you come upon them, are homelike, freshly painted, and clean. For some hours we drove along, crossing many steep ridges until, toward noon, Ourem's Castle came in sight, perched high on a fat, round hill. This we skirted, through vineyards and olive or-



chards, until we entered the long street of a town. Villa Nova d'Ourem, where we drew up before a very modest hospedaria. Notwithstanding its humble appearance, we found a neat, cool room up-stairs and had a good, plain luncheon. As soon as the noonday glare had somewhat subsided we were off again for another two hours. Then, at a turning, Thomar's church and castle suddenly rose before us. It seemed too late to climb the hill that evening, so we loitered instead in the fragrant gardens that skirt the Nabao, a little stream that seems to run right through these pleasuregrounds, feeding numerous picturesque wheels that dip its water into sluices and carry it off to the thirsty fields. When, next morning, we did ascend to the castle, we found it a fine old ruin that overlooks a vast expanse of country. From its battlements you may follow the course of one river after another —the Nabao, the Zezere, the Isna—as they wind through orchard and vineyard to their junction with the mighty Tagus. The merlons of its ramparts, pierced with loopholes in the shape of a cross standing on a circle,

show that it was built for the Templars, this being their emblem—the cross upon the earth. Their day passed, the infidel was driven from the country forever, and, relieved of the nightmare of the Moor's return, a new brotherhood arose and installed itself in the castle—the Order of Christ. Headed by its grand master, Henry the Navigator, its members put all their strength to new endeavor and dreamed their dreams of conquest and exploration, unveiling one by one the secrets of the ocean, finding the water routes to the uttermost ends of the earth, adding far countries to the crown of their sovereign. The church that adjoins the castle reflects both these periods. Its earlier portions, rugged and battlemented, built like a fortress, an outpost fronting the enemy, suggest the warlike spirit of the Templars. Its later portions voice the dreams of the Knights of Christ, and remain perhaps the supreme record of the most heroic and patriotic period of Portugal's history, when these knights constituted the vanguard of their country's civilization, supplying the wealth to back Prince Henry's enterprises and send one expedition after another over the seas,

the sails of the caravels emblazoned with the special cross that was the sign of their order. Each stone of the church speaks of some feat of these navigators; every detail of its ornament chants a song of the sea and the whole edifice is a poem of patriotism written in stone by its genial architect, Joao de Castilho. To read its story you must forget cold architectural measurements and look at the church as a vast fabric of symbols. Then, upon its buttresses, you will discern the corals and pearls of the tropic seas; upon its string-courses you will find ropes twisted through cork floats; in the reveals of its rose window the sails of the caravels belly in the wind, restrained by taut cordage and, capping its battlements, pierced by a frieze of armillary spheres, emblems of hope and of the king, the crosses of the Order of Christ form the cresting against the sky. The extravagant climax is reached in the chapterhouse window, a fantasy in limestone, a bit of submarine architecture worthy to grace a palace of the Nereids at the bottom of the sea : corals and sea-kelp, moving wave forms, bits of anchors and broken chains, shells and anemones, conches and cockles


blended together in a strange medley of forms too intricate to describe and too delicate to draw that contrast beautifully with the vast plain surfaces that surround them. The main entrance to the church is much more restrained and is perhaps the most beautiful doorway in the country, reminding one of the same architect's design at Belem, but finer both in conception and execution. The interior befits the meeting-place for holy knights, recalling some temple of the Grail. The knights worshipped in the coro alto to which a staircase ascends from the great cloister, and one can readily picture the chevaliers, two and two, mounting its narrow steps in dignified procession. The cloisters are of vast extent, but, owing to their late date, offer little of artistic interest, except perhaps the little cemetery courtyard, gay with flowers and Moorish tiles. From one of the large cloisters you step out upon a terrace overlooking a lovely vale. The convent wall edges the hill beyond, and all between stretch the gardens of the knights —bouquets of stately pines and rich masses of foliage— while in the quinta nearer the monastery, now the property of the Count of Thomar, oleanders, oranges,


 and loquats bloom amid masses of handsome flowers. Thomar is the swan-song of the Portuguese builders—the last outpouring of their soul, the final burst of glory before misfortune overtook their country and a Spanish Philip built the cold Palladian cloister that proclaims the death of the country's greatest hopes.


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O Aqueduto dos Pegões e a Ponte de Westminster em 1809


O Major inglês Henry Mackinnon relata os seus dias em Portugal e Espanha durante as guerras napoleónicas, estando em Tomar a 9 de Junho de 1809.
Numa obra publicada em Londres em 1812.


A journal of the campaign in Portugal and Spain, containing ...MacKinnon, Henry, 1773-1812.


O Major Henry glorifica o Aqueduto dos Pegões, comparando-o com a Ponte de Westminster em termos "de massa sólida é três vezes".

Talvez algum desconhecimento histórico, o tenha levado a dizer que o Aqueduto é obra dos "mouros", assim como, curiosamente, quando se refere ao Convento de Cristo.

Thomar é pura, tem boas casas, as águas são límpidas, quase se interrogando no fim qual a finalidade do Aqueduto do Pegões.



quinta-feira, 22 de novembro de 2018

"The cotton yarn, produced at Thomar" 1846

Mais uma curiosidade sobre Thomar em livro.

Desta vez uma obra de 1846, publicada em Nova Iorque e dedicada ao mundo.

Thomar surge apenas uma vez referenciada, num estado de crítica deixado pelos autores do livro para com um investidor em fábricas de nome Balbi, dentro do contexto do crescimento da Indústria em Portugal, um dia terá dito que "o fio de algodão produzido em Thomar é igual ao produzido em Inglaterra".

Os autores consideram "ridícula" tal afirmação, pois defendem que grande parte do algodão utilizado em Portugal vinha de Inglaterra, no entanto, esta afirmação demonstra que a fábrica de algodão em Thomar era tema de conversa universal.



domingo, 11 de novembro de 2018

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Memoria sobre o Convento da Ordem de Christo em Thomar - 1842

A obra  de 1842 "Memoria sobre o convento da Ordem de Christo em Thomar" é bastante importante pois liga um passado recente de guerra e invasões com a procura do presente.


Para além disso, o autor "passeia" pela história através dos Templários, Ordem de Cristo e Tomar.


Pode consultar a obra aqui:

Memoria sobre o convento da Ordem de Christo em Thomar, publicada ... Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Um Livro de 1896 e uma Capela perdida no tempo em Thomar

Uma obra de 1896 publicada em Inglaterra, onde surge a descrição da vila de Thomar.

Bradshaw's illustrated hand-book to Spain and Portugal: a complete guide for travellers
por Richard Stephen Charnock




Declaro que considero este livro delicioso pelo pormenor da Nabantia, nome de Tomar no tempo dos Suevo-Visigodos e quiçá termo ainda mais antigo a tocar os habitantes que viram os romanos chegar.

Assim como, pela descrição que se refere à industria de algodão, à antiga ponte romana, assim como, uma referência que quero deixar para discussão sobre as ruínas da Capela de Jesus do Monte.

Onde ficaria esta capela?


Gosto pessoalmente da presença de publicidade a canetas de luxo presente na obra.


terça-feira, 2 de outubro de 2018

Mapa de 1809

O Mapa que se segue é Inglês e publicado em 1809, o ano após a Família Real Portuguesa chegar ao Brasil.

Nele surgem as movimentações britânicas, espanholas e francesas em tempo de guerras napoleónicas.

Thomar surge muito bem sinalizada. Assim como a Atalaia.

Documento Completo

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

"Inscripções Portuguezas" de 1895

Os Capítulos que se seguem pertencem ao livro Inscripções Portuguezas e correspondem aos dedicados às inscrições presentes em Tomar.
Esta obra foi publicada em 1895 pela Imprensa Nacional e é da autoria de Luciano Cordeiro.



Fiel guarda da memoria é a escripta, porque
renova as cousas antigas, confirma as novas,
conserva as confirmadas e representa as
conservadas para que as noticias d'ellas se não
entreguem ao esquecimento dos vindouros.



(N'um diploma de doação de Affonso Henriques

ao Mestre Galdino Paes.--Trad.)



(PRIMEIRA SOBRE TOMAR)

I
Thomar, convento de Christo, na Sacristia Velha: pequena lapide, caracteres gothicos minusculos.


Leitura

--Esta capella mandou fazer Vasco Gonçalves d(e) Almeida, cavalleiro, e sua mulher Mecia Lourenço, amos do Infante Dom Henrique, e foi feita (na) era do Salvador de 1426.--


Damião de Goes (Liv. das Linh. MS.) abre o--Titulo dos Almeidas--com o seguinte:


--«Fernão d'Alvares d'Almeida foi um honrado cavalleiro em tempo delRei Dom João o 1.º. Foi Vedor de sua Casa, sendo elle Mestre d'Aviz, e, depois, em sendo Rei, foi Craveiro da dita Ordem e Ayo dos filhos do dito Rei.

«Houve filhos bastardos: Diogo Fernandes d'Almeida, Alvaro Fernandes d'Almeida e Nuno Fernandes, de quem não ha geração. E houve filhas».


N'esta bastardia, é que continuou e prosperou fidalgamente o nome, logo pelo primeiro rebento,--o Diogo,--que foi vedor da fazenda de D. João I e. de D. Duarte, e que, segundo Goes--«casou com sete mulheres»--das quaes o illustre chronista se limita a citar duas, apenas, se é que não houve erro de copia na primeira conta:


«...a primeira, filha de Dona Tareja, filha de João Fernandes Andeiro, Conde de Ourem e foi irmã, da parte da Mãe, do Arcebispo de Braga Dom Francisco da Guerra; e della houve a Lopo d'Almeida; e a outra segunda mulher foi filha do Prior do Crato Dom Nuno Gonçalves, e houve della a Alvaro d'Almeida e Antão d'Almeida e Dona Branca d'Almeida, primeira mulher de Ruy Gomes da Silva, o da Chamusca, e Dona Isabel d'Almeida, mulher d'Alvaro de Brito, e assim houve outras filhas.»


Não terá havido anterior ligação com a familia do Prior, e não derivaria d'ella o Vasco Gonçalves, da inscripção? 

O que parece certo é ter elle escapado, até agora, á luz indiscreta da Genealogia, na desolada solidão da Sacristia Velha de Thomar, com a sua companheira, a Mecia Lourenço, [13]que trouxe, naturalmente, aos burguezes seios o--«Alto Infante»--das descobertas. 

Amos do Infante são evidentemente os que o crearam; e esta designação abrangendo a Mecia, deve indicar a mulher que o amamentou. Bemditos peitos! 

Devo o calco d'esta inscripção ao meu amigo sr. M. H. Pinto, o distincto artista e director da escola industrial de Thomar. 



(...)


(SEGUNDA SOBRE TOMAR)

V

Thomar, igreja de Santa Maria dos Olivaes, sob o segundo arco da nave esquerda.

Leitura

--Aqui jaz Fernã(o) de Sa(m)paio, Caval(l)eiro fidalgo, creado delrei dom Af(f)onso, e sua filha M(ari)a de Sa(m)paio.--


Será Fernão Vaz de Sampaio, filho de Vasco Pires de Sampaio e de D. Maria Pereira, da casa da Feira? 

Este, fazem-n'o os genealogistas casado duas vezes, uma com D. Senhorinha, outra com Joanna de Alvim; e alguns, uma só vez, com uma ou com a outra d'aquellas senhoras, attribuindo-lhe varios bastardos havidos n'uma Leonor Affonso,--«mulher solteira»--entre os quaes um Lopo Vaz de Sampaio, que D. Affonso V legitimou em 1453. 

Que o Rei Affonso de que falla a inscripção é Affonso V, não póde duvidar-se. 

O «titulo» dos Sampaios, como se diz em Genealogia, foi sempre muito complicado por enxertos ganceiros. 

O calco foi-me enviado pelo sr. M. H. Pinto.




(TERCEIRA SOBRE TOMAR)

VI

Thomar, igreja de Santa Maria dos Olivaes, do lado esquerdo da porta de entrada (interior). Caracteres gothicos.
Leitura

--Esta sepultura é de Isabel Vieira, mulher d(e) Af(f)o(n)so de Vivar, Caval(lei)ro, co(n)tador da casa delrei nos(s)o s(enhor), q(ue), depois de seu fal(l)ecim(en)to, foi Com(m)e(n)dador das Alencarcas. E se finou a 18 dias de fevereiro de 1492.


Não póde haver duvida de que a inscripção, muito esmerada por signal, diz:--«Commendador das Alencarcas». Foi-o Affonso de Vivar, ou depois do fallecimento da mulher, ou, o que é mais provavel que a inscripção queira dizer, depois do fallecimento do Rei, que seria então Affonso V, se a data da morte da mulher corresponde á da abertura da inscripção. 

Mas o que eram as Alencarcas? 

Devo o calco ao amigo já citado e que muitas mais vezes terei de citar ainda, o sr. M. H. Pinto. 



(QUARTA SOBRE TOMAR)

VII


Thomar, igreja de Santa Maria dos Olivaes, na capella mór. Caracteres gothicos. Truncada por construcção posterior, que se lhe encostou, dos degraus do altar.




[26]Leitura

--Aq(ui) jaz Do(m) Gil M(ar)ti(n)s, o p(ri)meiro M(estr)e q(ue) foi da Caval(l)aria da Orde(m) de Jesus Christo, q(ue) foi f(re)irado (feito freire) na Ord(e)m d(e) Avis e M(estr)e da Caval(l)aria des(s)a Orde(m) e foi da linhagem do Outeiro; q(ue) pas(s)ou (faleceu) e(m) sexta feira, 13 dias (d)e nove(m)bro, e(ra) 1359 an(n)os (a) q(ua)l alma D(eu)s leve p(er)a a gloria do Paraiso. Ame(n) Co(m) e(lle) mais os(s)os sã(o?).


Está a lapide embebida na parede do lado esquerdo, por baixo do formoso mausoleu de D. Diogo Pinheiro, primeiro bispo do Funchal, tendo sido para alli removidos os restos do Grão-Mestre, nas obras de renovação feitas na igreja, no tempo de D. Manuel ou já de D. João III, segundo a tradição. 

Deviam estar anteriormente n'um caixão ou tumulo de pedra. A esses restos se juntaram os de outros personagens, e a isto seguramente alludia a parte truncada ou illegivel da lapide. 

Não é, pois, perfeitamente exacto que se não saiba:--«o logar certo onde estão as cinzas do primeiro Mestre de Christo»--como diz Santos (Monum. milit, etc.), que, aliás, indica a remoção d'esses restos e a inscripção que os denuncia, que melhor fôra que tivesse copiado, com as mais. 

Pertence o calco á bella colheita com que me tem brindado o sr. M. H. Pinto. 




(QUINTA SOBRE TOMAR)

VIII

Thomar, igreja de Christo, junto á Charola. Caracteres rom. maiusc. Grande lapide.




[29]Leitura

--Aq(u)i jaz o m(ui)to (h)o(n)rado Com(m)e(n)dador Do(m) Lopo Dias de Sousa, Mestre da Caval(la)ria da Orde(m) de Christo, q(ue) foi se(m)p(r)e m(ui)to leal s(e)r(v)idor ao m(ui)to alto se(m)p(r)e ve(n)cedor elrei Do(m) Joã(o) o p(r)im(ei)ro, (a)o qual foi gra(n)de ajuda e(m) defe(n)são d'estes reinos; e e(n)trou co(m) el(l)e ci(n)co vezes e(m) Castel(l)a co(m) sua Caval(l)aria, e e(m) a tomada de Ceuta; e teve o mestrado q(u)are(n)ta e seis an(n)os. E finou-se na era de Jesus Christo de 1435 an(n)os, aos nove dias do mes de fev(erei)ro, e o m(ui)to ho(n)rado e presado s(enh)or o I(n)fa(n)te Do(m) (H)e(n)riq(u)e, governador da dita orde(m), duq(ue) de Viseu e s(enh)or de Covilha(m), o ma(n)dou tra(s)ladar a este co(n)ve(n)to, aos oito dias do mez de março da dita era do na(s)c(i)m(en)to de Nos(s)o S(enh)or de 1435 an(n)os.


Este D. Lopo Dias de Sousa é personagem bem conhecido e de quem é facil encontrar larga noticia. 

Era bisneto, pelo pae, de D. Affonso Diniz, filho de Affonso III--«e da condessa de Bolonha D. Mathilde»--a primeira mulher d'este Rei, sendo filho de Alvaro Rodrigues de Sousa e de D. Maria de Menezes, filha de Martim Affonso Tello de Menezes, irmão da celebre Rainha e adultera, D. Leonor Telles. Foi esta que o fez Mestre da Ordem, quando não tinha edade para o ser, o que não obstou a que elle honrada e valentemente viesse a servir a causa portugueza do Mestre de Aviz (João I) contra as pretensões e a invasão de Castella, patrocinadas pela adultera. 

Diz Goes (Liv. das Linh. MS.):


[30]
«Dom Lopo Dias de Sousa... foi Mestre de Christo, apresentado na dita dignidade por ElRei Dom Fernando, a requerimento da Rainha Dona Leonor Telles, mulher do dito Rei Fernando, que era tia d'este Dom Lopo Dias, Mestre de Christo... Teve por manceba a Dona Maria Ribeira, que em Pombal houve dispensação do Papa para a receber por mulher, e houve d'ella estes filhos: a Diogo Lopes de Sousa e Dona Mecia de Sousa, que casou com Dom Vasco Fernandes Coutinho, primeiro Conde de Marialva, e Dona Violanta, que casou com Ruy Vaz Ribeiro de Vasconcellos, Senhor de Figueiró dos Vinhos e do Pedrogam, e Dona Isabel, mulher de Diogo Lopes Lobo, Senhor d'Alvito, e Dona Aldonça, mulher de Pedro Gomes de Abreu o Velho, e Dona Branca, mulher de João Falcão, e Dona Leonor, mulher de Affonso Vasco de Sousa.»


Um neto d'elle, Alvaro de Sousa, filho de Diogo Lopes de Sousa, mordomo-mór do Rei D. Duarte, foi mordomo-mór de D. Affonso V e casou com uma filha de D. Fernando de Castro, governador da Casa do Infante D. Henrique:--D. Maria de Castro. 

Uma observação ainda: A inscripção parece corrigir a versão commum adoptada por J. A. dos Santos, na bella monographia Monumento das Ordens militares, etc., em Thomar, de ter Dom Lopo cahido em poder dos castelhanos em Torres Novas, ficando inutilisado para todo o resto da campanha. 

--«Entrou cinco vezes em Castella»--diz terminantemente a pedra. 

Devo o calco ao sr. M. H. Pinto, que ultimamente me mandou alguns outros, de Figueiró, entre os quaes encontro o da inscripção que incluo em seguida por importar á prole do mesmo personagem. 




(SEXTA SOBRE TOMAR)

X


Thomar, Convento de Christo, sobre o arco da Sacristia Velha.



[34]Leitura

--Era MCC · VIIII magister Galdinus nobili siquidem genere Bracara oriundus exctitit tempore autem Alfonsi illustrissimi Portugalis regis. Hic secularem abnegans miliciam, in brevi ut Lucifer eminevit, nam Templi miles Gerosolimam peciit ibique per quinquenium non in hermen vitam, duxit cum Magistro enim suo cum Fratisbusque implerige preliis contra Egipti et Surie insurrexit regem. Cumque Ascalona caperetur, presto eum in Antiocam pergens sepe contra Sidan decione dimicavit. Post quinquennium vero ad prefatum qui et eum educaverat et militem fecerat reversus est regem. Factus Domus Templi Portugalis Procurator hoc distruxit castrum Palumbar, Thomar, Ozezar et hoc quod dicitur Almoriol et Eidaniam et Montem Sanctum.--


Versão

--Era de 1209. O Mestre Galdino, certamente de nobre geração, natural de Braga, existiu no tempo de Affonso, illustrissimo Rei de Portugal. Abandonando a milicia secular, em breve se elevou como um Astro, porquanto, soldado do Templo, dirigiu-se a Jerusalem, onde durante cinco annos levou vida trabalhosa. Com seu Mestre e seus Irmãos, entrou em muitas batalhas, movendo-se contra o Rei do Egypto e da Syria. Como fosse tomada Ascalona, partindo logo para Antiochia pelejou muitas vezes pela rendição de Sidon. Cinco annos passados, voltou, então, para o Rei que o creára e o fizera cavalleiro. Feito Procurador da casa do Templo em Portugal, fundou, n'este, o castello de Pombal, Thomar, Zezere e este que é chamado Almoriol, e Idanha e Monsanto.--


Esta inscripção tem sido dada por diversos auctores, mas em nenhum é rigorosamente exacta a copia. O proprio [35]Costa (Historia da ordem, pg. 178, doc. 14) figurando-a toscamente em reproducção graphica, erra logo na era a leitura, dando a de 1208 pela de MCCVIIII ou 1209 que tão nitidamente se lê na linha1). 

Este erro generalisou-se, repetindo-o Viterbo (Elucidario) e adoptando-o Pedro Ribeiro (Dissertações). Debalde Cunha (Historia ecclesiastica de Braga), na sua traducção, soffrivelmente phantasiosa, restituiu a era exacta de 1209. 

Na linha 4) suscitou-me duvidas a leitura commum do --hic,--pela fórma especial da inicial, que se encontra na linha 6), onde parecia repugnar-lhe o valor de--h--. Mas, não podendo ler-se:--inic--ainda por:--in hic--é forçoso acceitar a leitura geral. Na mesma linha, a palavra --abnegans--tem evidentemente a fórma de--acbnegans,--que aliás diz o mesmo. 

Na linha 5), a leitura geral é a de--emicuit--por--emievit,--que é positivamente a que está na pedra. Preferimos, porém, a de--eminevit,--de--emineo,--que mais se approxima, e que não altera, mas precisa mais o sentido. Foi-me suggerida por Gabriel Pereira esta versão. 

Na linha 6), Costa copiou--petiit--por--peciit,--e--inermem--por--in hermen,--que é o que claramente lá está. Vê-se que o embaraçou tambem a fórma da inicial acima alludida, não querendo ler n'ella o--h--que aliás não duvidára ler, como tal, no--hic--da linha 4). A solução parece-nos ser a de dar áquella fórma, aqui, o valor de uma simples tremação ou dierese do--i--lendo realmente:--ïermen--ou--in ermam vitam--. Podem não ter grande importancia estas variantes, mas é sempre bom conservar-se a fórma original em taes cousas. 

Na linha 7) onde se lê:--cvm Magistro enim svo,--Costa permitte-se acrescentar um--fuit,--que lá não está, nem é necessario. 

Mas é na linha 9) que as pretensões correctivas do auctor da Historia da Ordem, etc., tomam mais graves proporções. Assim: onde nitidamente se lê:--presto evm in Antiocam,--elle simula copiar:--presto fuit in Antiochie,--e [36]logo em seguida lê:--sepe Suldani--em vez de--sepe contra Sidan,--como diz a pedra, e bem. Dá assim origem ao erro que elle, Cunha, e os mais commettem, de traduzir--Soldão--por--Sidan,--o soldão ou sultão, não se sabe qual, pela cidade de Sidon, perfeitamente conhecida. 

Na linha 10), a leitura de Costa e dos mais, embaraçou-se na abreviatura--vo,--que se segue á palavra--quinquennium,--claramente:--vero,--e achou então melhor supprimil-a. Em seguida, reduziu a--eum,--a abreviatura em que entrava um--t--muito bem definido, mas que o embaraçava tambem. Restituimos--et eum--que é fórma conhecida. 

Na linha 11), tem-se lido sempre por--hoc construxit,--que é a leitura que immediatamente occorre, de certo, a fórma ou phrase, que, pelo rigoroso confronto dos caracteres da inscripção, não podemos ler senão como:--hocdstrvxit--. A primeira duvida suscitou-nol-a o--hoc,--não porque não esteja bem definido nos caracteres, mas porque nos pareceu arrevesado ou inadequado ao sentido. É evidente, porém, que se quiz precisar o paiz, o logar e não o objecto ou o castello, determinadamente, e assim traduzimos:--Feito Procurador da Casa do Templo, em Portugal, neste (i. e. aqui) fundou, etc. Mas porque é que todos têem fugido a ler litteralmente:--dstrvxit,--que é a forma original? Naturalmente, por entenderem que esta fórma equivaleria necessariamente á de--destruxit (de destruo)--dando o absurdo de ter Galdino destruido os castellos em vez de os ter construido (construxit). Mas é que não lembrou que não era fatal ler--destruxit,--e que, lendo-se--distruxit--(de distruo), se obtinha a idéa contraria, ou a idéa precisa de ter o Templario portuguez lançado, espalhado, ou construido, aqui, em diversas partes, os fundamentos d'esses diversos castellos. E mais explicado fica o--hoc,--antecedente. 

Finalmente, na ultima linha, ha duas abreviaturas:--dod. dr.--ou talvez, por uma inversão da primeira inicial:--qod. dr.--que geralmente se lê, e parece bem:--quod dicitur--. 

[37]Tambem esta interessantissima inscripção, pela primeira vez directamente reproduzida por calco, que me enviou o sr. Pinto, da escola industrial de Thomar, não tem obtido até agora uma traducção regularmente exacta. Costa e Cunha não separam as orações, nem traduzem litteralmente. 

O primeiro traduz:--sepe pergens contra Sidan etc.-- por--e muitas vezes venceu ao Soldam,--o que é duplamente falso. Como já observei, iniciou o erro de ler--Suldani,-- onde, clara e rasoavelmente, está:--Sidan--. 

Cunha, que restitue a era exacta de 1209, antecede-a pela formula:--Em nome de Christo,--que lá não está, e acrescenta a filiação do Rei Affonso:--filho do Conde Dom Henrique e da Rainha Dona Tareja--. Não contente com isto, traduz que: quando Escalona foi tomada, elle foi alli prestes e prompto;--põe Galdino em Antiochia pelejando muitas vezes--contra o poder do Soldão;--augmenta a enumeração dos castellos com o de--Cardiga,--supprimindo o de--Monsanto,--e alonga, finalmente, a inscripção com as seguintes palavras:--Era 1209 annos. Mestre Gualdim, nascido em Braga, que he cabeça de Galisa, edificou este Castello de Almorol com os freires seus irmãos--. 

Bastam estes exemplos. Como é sabido, a inscripção está n'uma grande lapide de marmore sobre o arco da chamada Sacristia Velha do convento de Christo de Thomar, para onde foi transferida, do castello de Almorol, segundo a tradição, no tempo e por ordem do Infante Dom Henrique. 

É claro que não havemos de fazer, agora e aqui, a biographia de Mestre Gualdino ou Gualdim ou Galdino Paes. N'esse ponto, é justo louvar as diligencias e os trabalhos de Costa (Historia da Ordem, etc.) e de Viterbo (Elucidario), que reuniram interessantissimos documentos sobre o Templario portuguez. Segundo o primeiro, Galdino nasceu em 1118 e morreu em 1195. Era filho de Payo Ramires e de D. Gontrade Soares, nomes que denunciam uma origem visigoda. Pelo pae, era bisneto de Ayres Carpinteiro que lhe trazia uma bella tradição de fidalguia authentica.

[38]N'um velho livro de linhagens anda dispersamente registada esta prosapia: 


--«Este Ayres Carpinteiro onde (d'onde) vem os Ramirãos foi casado com Amiana de Selharis e de Tevora e fege nella Ramiro Ayres...»


Ramiro casou com Orraca Peres, filha de Gontinha Eres e de Dom Pedro Affonso de Doreas--«que fez Manhente,»--e o seu primogenito foi Dom Payo Ramires. Casou Dom Payo, a primeira vez, com Dona Orraca de Caldelas de Galiza, de quem teve o alcaide Dom Vasco Paes,--«e desque morreu esta mulher a D. Payo Ramires casou com a irman de D. Payo Correa o Velho e fege nella o mestre D. Gualdim Paes do Templo e D. Gomes Paes de Piscos: e este mestre D. Gualdim Paes fez Tomar e Pombal e Castelo de Almoyrol e poboou outros muitos logares que ganhou á ordem, e foi muito forte em armas e leixou ao Templo o que agora ha, e em Abelamar (talvez em alem-mar)». 

Goes, que gostâmos sempre de consultar n'estas historias, não parece ter encontrado nos Paes, do seu tempo, pelo menos, uma genealogia muito antiga, pois que abre o «titulo» com Payo Rodrigues que--«foi um cavalleiro muito honrado em tempo delRei Dom Affonso o quinto, e foi filho de Pedro Esteves, Alcaide Mór de Portel»--. São outros, evidentemente. Tambem da semente d'elle, como dizem os geneologos, não seria facil haver noticia, espalhada, como ficaria, clandestina ou ganceira, pela Syria e pelo Ribatejo, nas aventuras e desmandos das campanhas do Templario. 

Segundo Cunha, nasceu o Mestre em Braga e--«n'ella se conserva ainda hoje uma rua com o nome de D. Gualdim, em que é tradição que nasceu»--. 

Corrigem outros, observando que alli fôra Procurador ou Mestre da Casa do Templo, que lá existira,--o que é demonstrado por um documento citado no Elucidario de Viterbo,--mas que em Marecos, depois Amaraes e hoje [39]Amares, a 10 kilometros de Braga, é que realmente nascera o Mestre, que fôra até o primeiro a usar e a nobilitar o titulo de Marecos, da herdade que foi o nucleo da povoação. 

Convem dizer, pois que não tem sido dito até hoje, que outro velho codice geneologico põe uma sombra de duvida n'esta gloria da pequena povoação minhota, dizendo, um tanto obscuramente:--«E o meestre dom galdim paez do tempre e seu irmaão forom naturaaes dapardar de braa». Mas sendo justa a hesitação na leitura indicada na compilação da Academia (Port. monum. hist.), não será talvez muito aventuroso ler:--da par de Braga,--restituindo á antiga Marecos, o seu Templario. E já agora avivemos o registo de um pequeno episodio que n'esta altura nos offerece esse codice. 

Uma neta do irmão de Galdino:--Dona Estevaynha ou Estevaninha Paes casou com Dom Martim Annes de Riba da Visella, neto, pela mãe, de um grande fidalgo Dom Soeiro Mendes o Gordo que a tivera de uma barregan e que fazendo-a herdeira--«mui bem e mui compridamente em seus beens»--a casára com Dom João Fernandes de Riba da Vizella. 

Diz então o codice:--«E este meestre dom galdim paaez do tempre fez muyto bem e deu grandalgo a este dom Martim Annes de riba davizela quando casou com esta dona steuaynha paaz sobredita». 

Martim Annes foi--«mui priuado delRei dom afonso de portugal, filho delRei dom sancho o uelho». 

Por ordem do Rei foi cercar a irmã d'este, a Infanta Dona Thereza, a Montemór o Velho, e derrotado, cahiu n'um paul entre aquella villa e Coimbra. Quando lhe acudiram:--«non se pode sofrer que non morese do sangui que del tirarom as çameçugas». 

Dá, ainda, uma tradição constante, e parece confirmar a inscripção de Thomar, que Galdino fôra creado na côrte do primeiro Rei portuguez, e por elle armado cavalleiro na batalha de Ourique, em 1139. É sómente dez ou mais annos depois d'esta data, que nos apparece nos documentos, [40]e já como Templario graduado, consequentemente depois do seu regresso do Oriente. 

Segundo Cunha e os diplomas reunidos por elle, seria, até, sómente na era de 1199, correspondente ao anno de 1161, que pela primeira vez nos appareceria como Mestre, na doação que lhe faz o Rei:--tibi Magistro Gualdino,--de certas herdades cultivadas e por cultivar junto de Cintra; mas Santa Rosa de Viterbo (Elucidario) encontra-o muito antes, em 1148, figurando como Mestre da Casa Templaria de Braga, n'uma concordata feita com esta, e em 1157 como Mestre absoluto ou Geral dos Templarios em Portugal, succedendo a Dom Pedro Arnaldo, que abdicou n'esse anno e morreu no seguinte. Terá Viterbo lido bem aquella primeira data? A interrogação parecera impertinente em relação ao erudito investigador, se um facto muito positivo a não auctorisasse. Esse facto é a tomada de Ascalonia, expressamente indicada na inscripção. Essa tomada, é claro que não foi a de Saladino aos christãos, que só se realisou em 1187. Foi a dos christãos aos turcos. Estava lá, então, Galdino; isto é, estava no Oriente em 1153, que é a data d'esta conquista. (Michaud, Hist. des Croisades, t. II.) 

Estava, e demorou-se ainda. Estando em 1157 em Portugal, e sendo feito, então, Mestre geral dos Templarios Portuguezes, partiria em 1152, ou pouco antes, mas já partiria, então, como templario graduado, se é verdadeira a data de 1148, attribuida por Viterbo á concordata de Braga, o que, de resto, não repugna inteiramente á inscripção. 

Inclinamo-nos a crer que foi realmente em 1157 que Galdino voltou, sendo então elevado ao cargo de Mestre geral, ou, como a inscripção diz:--de Procurador do Templo, em todo o Portugal, tendo partido, como simples Mestre da Casa de Braga, em 1152, ou pouco antes. 

Dos castellos alludidos na inscripção, dois,--o de Idanha e o de Monsanto,--são-lhe doados em 29 de novembro da era de 1203 (1165), chamando-se-lhe tambem Mestre:--vobis Magistro Gualdino--. 

[41]A ideia vulgar da hierarchia monastico-militar póde parecer extraordinario que elle seja designado simplesmente como Procurador, em outubro da era de 1207 (1169), quando lhe são doados, e á Ordem, os castellos de Zezere, de Thomar, e ainda o de Cardiga--«com todas as herdades que alli fizeste e rompeste»--devendo notar-se que n'esse mesmo anno como tal se apellida tambem, na doação:--«de toda a terça parte que pela graça de Deus poderem adquirir e povoar desde o rio Tejo por deante--»para o sul, é claro, aos--«cavalleiros chamados do Templo de Salomão»--nas pessoas dos de Portugal e de--vobis Fratri Gualdino in Portugalia rerum Templi Procuratori--. 

Mas esta qualidade de Procurator, referida á gerencia regional ou provincial dos diversos agrupamentos da Ordem, não era inferior, e muito menos incompativel, com a categoria de Magister, a bem dizer a de Superior de cada Casa ou Commenda, com tendencias para substituir aquella pela separação das diversas communidades nacionaes. 

Não foi Galdino o unico cruzado portuguez; mas é dos raros cujos nomes se apuram. Se das suas façanhas no Oriente resa sómente a inscripção, outros e diversos documentos a corroboram brilhantemente na historia patria. 



(SÉTIMA SOBRE TOMAR)


XII


Thomar. Igreja de Santa Maria dos Olivaes, na parede da segunda capella, á direita.




[46]Leitura

--Obiit frater gvaldinvs magister militum templi portugalie E. MCCXXXIII, III.º idvs octobris. Hic castrvm Tomaris cum multis aliis popvlauit. Requiescat in pace. Amen.

Versão

--Morreu Frei Galdino, Mestre dos Cavalleiros do Templo em Portugal, na era de 1233, terceiro dos idos de outubro. Este castello de Thomar, com muitos outros, povoou. Descance em paz. Amen.



No movimento, um pouco desordenado, diga-se de passagem, das celebrações apotheosicas, centenaes ou não, que ultimamente se tem manifestado entre nós, pensaram alguns cavalheiros de Thomar em promover uma que attrahisse as attenções e a concorrencia de forasteiros á formosa cidade do Nabão, bem digna realmente de ser mais conhecida e visitada. Tiveram, então, a feliz idéa de tomar por thema o nome e a memoria do valente Templario portuguez, Galdino Paes, tão deploravelmente esquecido tambem, e de quem póde dizer-se que foi, alem de fundador de Thomar, um dos mais intrepidos e persistentes cooperadores da fundação de Portugal. 

Sob aquella idéa se reanimou o empenho do meu amigo e distincto director-professor da Escola Industrial d'aquella cidade, sr. Manuel Henrique Pinto, de encontrar a jazida dos restos do glorioso Templario. Aproveito a occasião para dizer, com reconhecimento, que o sr. Pinto tem sido o meu mais dedicado e caloroso auxiliar n'esta colheita de calcos de inscripções portuguezas. Honra lhe seja, que n'isso não é a mim, mas á Historia e ao paiz, que presta um bello serviço. 

Obtendo licença para sondar as paredes d'aquella interessantissima e vetusta igreja de Santa Maria do Olival ou [47]dos Olivaes, que por si dava assumpto para uma soberba monographia sobre a historia da architectura nacional, o sr. Pinto, com dois amigos egualmente interessados n'esta pesquiza, começou-a e teve a fortuna de, ás primeiras tentativas, encontrar a pedra (naturalmente um dos lados do sarcophago), em que está, nitida e graciosamente cavada a inscripção de que tirou e me enviou o magnifico calco, em poucos minutos reproduzido pelo lapis primoroso e firme de Casanova. Como se vê, a inscripção não offerece hesitações ou duvidas de leitura ou de contemporaneidade, esta ultima perfeitamente flagrante, para quem conhece a epigraphia tumular do tempo, com as suas cruzes espalmadas (pattées) iniciaes, com as maiusculas oscillando entre o romano e o gothico, com o seu pautado, até com a sua redacção dos velhos obituarios e livros de calendas, monasticos. Lê-se ao primeiro relance. Que o til ou plica que ornamenta um dos XX da era, não suggira reparo. Tem o mesmo valor que os do e (era), do m (mil) ou dos cc (duzentos): isto é, nenhum tem. O Viterbo do Elucidario já advertiu esta especie de mau habito decorativo, inconsciente. 

era é indiscutivelmente a de 1233, correspondente ao anno de Christo de 1195. Sempre se lucrou, com a idéa do centenario, ficarmos definitivamente sabendo que o grande Templario morrêra em 1195, a 13 de outubro. Teria então setenta e sete annos, se tambem acertou Costa (Hist. da Ord.), quando o dá nascido em 1118. Cedo fizera Galdino a sua iniciação de Cavalleiro do Templo nas longinquas campanhas da Syria; mas, por mais cedo que n'aquelles tempos se fosse homem, é claro que andam erradas algumas datas das suas doações e fundações. Apparecer-nos elle como Mestre,--tibi Magistro Gualdino,--em 1161, isto é, aos quarenta e tres annos, na doação das casas e herdades cultivadas e por cultivar junto de Cintra, não repugna, comtudo. 

Em 1169, isto é, aos cincoenta e um, é que recebe toda a terça parte que podér adquirir e povoar desde o Tejo [48]por deante, em doação «a Deus e aos cavalleiros chamados do Templo de Salomão», como Procurador d'elle em Portugal:--«vobis Fratri Galdino in Portugal rerum Templi Procuratori»,--e mais os castellos da foz do Zezere, de Cardiga, e o de Thomar, com todas as herdades--«que fizestes e rompestes». Já anteriormente, em 1165, lhe haviam sido doados,--vobis magistro Gualdino,--e á Ordem, os castellos de Idanha e de Monsanto, e antes ainda, seguramente,--«aquelle castello que se chama Ceras»--e a Redinha. Rigorosamente, estas doações não eram mais que as confirmações reaes das fundações, das conquistas e das explorações agricolas, com que o activo Templario e os seus freires iam acrescentando e consolidando, dia a dia, a patria christã e portugueza.